O seu Jumento era um sujeito calmo, mas que dentro, sabia
ter uma bomba- relógio.
Ele trabalhava tal qual seu nome e no final do mês, apertava
o que dava do cinto para segurar para o próximo salário, mas tudo bem.
Ele precisava, de vez em quando (Graças a Deus, como dizia)
de ir ao hospital, demorava, é bem verdade, mas conseguia sair de lá com
receita de aspirina e então, tudo bem.

Mas um dia, um dia assim meio fechado, meio estranho, com um
clima diferente; fez com que o seu Jumento não achasse tudo bem, conta-se que
foi no dia que ele voltou do supermercado sem o básico.
Ele reclamou. E a bomba-relógio explodiu.
O seu Jumento gritou alto, enfurecido, indignado; desgastado
pelas injúrias de uma vida de trabalho sem retorno, sem mais estar resignado
com o ônibus lotado e em mau estado; literalmente cansado de carregar o peso da
carapuça que lhe serviu durante tanto tempo.
Lembra-se hoje das palavras que ele não cansava de repetir: “Eu
não quero e nem preciso que troque de governo, se tiver que trocar tudo bem eu
ajudo na troca, mas o que eu quero é que além dessa luta partidária burra, além
dessa disputa entre esquerda e direita, eu quero que: QUALQUER UM DAQUELES QUE
TENHAM SIDO DIGNOS DO MEU VOTO (de confiança) SAIBAM QUE, SE AS COISAS NÃO
ACONTECEREM DA MANEIRA CORRETA, SE EU NÃO PUDER TER ACESSO AO QUE EU PAGO PARA
TER, SE EU TIVER QUE ARCAR COM A MISÉRIA NA MINHA PORTA PORQUE OS “GOVERNANTES”
ROUBAM O MEU DINHEIRO, TERÃO, NÃO UM JUMENTO PARA APLAUDI-LOS E SIM UM GIGANTE
PARA REPREENDÊ-LOS E SE NECESSÁRIO FOR, DEMITI-LOS. EU QUERO QUE ELES SAIBAM
QUE SE NÃO ME RESPEITAREM ELES DEVEM TER MEDO DE MIM.”